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terça-feira, 20 de julho de 2010

Sexualidade Infantil(artigo de Rosana Mafra)

A sexualidade pode ser vista como “a base da curiosidade, a força que nos permite elaborar e ter idéias, bem como o desejo de ser amado e valorizado à medida que aprendemos a amar e a valorizar o outro” (BRITZMAN, 1998, p.162). A sexualidade manifesta-se através de atitudes, comportamentos, gestos, ultrapassa, portanto, a dimensão biológica, pois envolve emoção, afeto e imaginário. A sexualidade se expressa através do corpo, na subjetividade única de cada sujeito. Ela mostra sua dimensão existencial, quando pensada como direito individual, da ordem do íntimo, que envolve o sujeito em sua totalidade. Ela manifesta sua dimensão social, quando as peculiaridades adquiridas emergem da sociedade em que o sujeito está inserido.




No espaço escolar, na sala de aula, por exemplo, há crianças em condições de subordinação em relação aos professores, os quais assumem o papel de transmissores de um conhecimento legitimado. Assim, o corpo do aluno fica submisso a lugares e comportamentos pré-determinados, organizados pela dinâmica escolar. Seriam os “corpos dóceis, corpos submissos”, como enfatiza Foucault (1984, p. 118-119). Este autor destaca que a compreensão do caráter social da sexualidade é definida pelas elaborações histórica, política e contextual, explicadas pelas manifestações sociais e históricas, cujas formas e variações não podem ser identificadas sem que se examine e explique o contexto em que se formaram. A pessoa nasce com seu corpo definido (ser homem ou mulher; ser alto ou baixo, ser loiro ou moreno...), porém a sexualidade é aprendida, construída pelo próprio sujeito e, em grande parte, condicionada por sistemas de valores familiares, culturais e sociais vigentes. Estes valores são, muitas vezes, reforçados, reprimidos e normatizados por influências religiosas e morais e pelo que é divulgado por livros e histórias infantis, os quais submetem a criança a determinados modelos ideológicos que influem sobre sua expressão.



A sexualidade tem sido também descrita, compreendida, explicada, regulada, estudada, normatizada a partir de várias perspectivas e campos disciplinares repressor. O educador é de igual forma, fruto dessa educação repressora. Ela também marcou o caminho por ele percorrido. O educador, portanto, traz implícitas, em suas ações, as concepções de sua educação sexual e de sua vida pessoal. O educador é um sujeito sócio-cultural, um ator social de grande destaque no espaço escolar e desempenha papel crucial, principalmente no que diz respeito às interfaces corpo, gênero e sexualidade na educação. A escola, sendo um espaço educativo, desempenha papel determinante na formação da criança, com vista a seu posicionamento e sua integração em uma sociedade em constante mudança, que se torna constantemente mais complexa, exigente e desigual.



Refletir sobre gênero, corpo e sexualidade, numa época de transição de valores como a atual, é bastante complexo. Pode-se encontrar na mesma escola pessoas com argumentações totalmente diferentes sobre assuntos ligados à manifestação da sexualidade. Abordar o tema emergente da sexualidade constitui grande desafio aos educadores.



Estes temas vêm sendo divulgado abertamente pelos meios de comunicação, através de propagandas, outdoor, programas infantis, programas de auditório, filmes, novelas, revistas masculinas e femininas. É só acessar a televisão ou a Internet e, rapidamente, as crianças recebem os mais variados estímulos direcionadas a estas questões.



Não se pode negar, no entanto, que as crianças, embora recebam enorme quantidade de informações principalmente sobre o sexo, ainda apresentam uma compreensão equivocada sobre o assunto, porque muito pouco é explicado, discutido. As cenas, imagens, propagandas que estão postas encarregam-se de tornar tudo muito explícito para a criança, porém sem oportunizar-lhes o conhecimento necessário. Pais e professores têm dúvidas sobre como agir, pois acreditam que, debatendo o assunto, podem influenciar a criança ou despertar curiosidades inoportunas. Um considerável grupo de educadores ainda acredita que a educação sexual, na escola, deve restringir-se a informações sobre fisiologia, anatomia, aparelho de reprodução e por isto ser de responsabilidade dos professores de Biologia.



As crianças convivem quotidianamente com cenas de sexo, seja em casa, seja na rua. Elas são motivadas à erotização precoce, através da imitação de comportamentos sugeridos por músicas e coreografias, que estimulam a sexualidade e a sensualidade.



As crianças querem saber sobre as diferenças existentes entre si e os papéis que desempenham. Desejam encontrar, na escola e na família, o lugar em que, contemplados pelo afetivo, envolvidos pelo acolhimento de seus sentimentos e emoções, tenham respostas para suas perguntas, onde assuntos referentes a gênero e sexualidade sejam adequadamente tratados.



É fundamental que a abordagem da temática corpo, gênero e sexualidade seja feita de forma prazerosa e constitua projeto permanente no espaço escolar.







Fonte:

BRITZMAN, Deborah. Sexualidade e cidadania democrática. IN: SILVA, Luiz Heron. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis, Vozes, 1998.



FOUCAULT, M. . História da Sexualidade I: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro : Graal, 1984.



NUNES, César: Desvendando a sexualidade . Campinas: Papirus,1997.

Um comentário:

  1. Amei este artigo! Sou educadora e achei este artigo extremamente pedagógico, abrindo muitos camnhos a nós educadores ...

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