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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O dizer do Psicanalista

O dizer do psicanalista, sustenta Nasio, não carrega consigo o propósito de decifrar o inconsciente, mas de produzi-lo sob a forma de acontecimento, relançando a cadeia dos significantes e favorecendo que outros acontecimentos se realizem.
A melhor interpretação se diz sempre em duas ou três palavras bem curtas, à maneira de uma réplica que toca, corta e pontua o enunciado do analisando.
Winnicott foi um reformador liberal da assim chamada técnica psicanalítica clássica e desconstruirá o estilo interpretativo conduzindo-o ao extremo da simplicidade e da discrição, dando-lhe aos poucos a forma de um dito espirituoso, de uma piada, de uma interjeição ou, como preferia dizer, de um rabisco(squiggle).
O espaço transicional, o entre-dois onde coabitam ilusão e verdade, adquirirá uma importância decisiva na eficácia clínica no tratamento psicanalítico. Em 1971 Winnicott afirma que a psicanálise acontece na sobreposição das zonas de brinquedo do paciente e do analista. Analista e paciente brincam no interior do campo transicional quando conseguem conjuntamente cria-lo e usá-lo.
A ilusão do paciente deverá ser necessáriamente aceito, creditada e compartilhada ficcionalmente pelo analista; esta é uma condição sine qua non que o analisando lhe impõe para deixa-lo participar da sua intimidade subjetiva e nestas condições dar-se-a o diálogo transicional.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Horda Selvagem(Recorte do Livro "A família em desordem" de Elisabeth Roudinesco

Em uma época primitiva, conta Freud adotando o estilo de Darwin, os homens viveram no seio de pequenas hordas, todas submissas ao poder despótico de um macho que se apropriava das fêmeas. Certo dia, os filhos da tribo, numa rebelião contra o pai, puseram fim ao reinado da horda selvagem. Num ato de violência coletiva, depois do assassinato, sentiram-se arrependidos, renegaram seu crime e inventaram uma nova ordem social ao instaurarem simultaneamente a exogamia, o interdito do incesto e o totemismo. Foi este o alicerce lendário comum a todas as religiões, e sobretudo do moneteísmo.
Nessa perspectiva, o complexo de Édipo, segundo Freud, não é senão a expressão dos dois desejos recalcados - desejo de incesto, desejo de matar o pai contidos nos dois tabus próprios do totemismo: interdito do incesto, interdito de matar o pai-totem. O complexo é portanto universal, uma vez que é a tradução psíquica dos dois grandes interditos fundadores da sociedade humana.
Mais além do complexo, Freud propõe, como totem e tabu, uma teoria do poder centrada em três imperativos: necessidade de um ato fundador(o crime), necessidade da lei(a punição), necessidade da renúncia ao despotismo da tirania patriárquica encarnada pelo pai da horda selvagem.
O homem freudiano para ser civilizado e satisfazer a mulher, deve controlar a sexualidade selvagem que herdou do pai da horda, e rejeitar a poligamia, o incesto, o estupro. Deve aceitar o declínio de seu antigo poder.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TRAUMA

Ferenczi nos ensina  que o trauma acontece quando a linguagem da paixão, usada por um adulto enlouquecido de fúria ou sexualidade, em quem a criança confia, violenta a linguagem da ternura, do amor e da confiança que a criança deposita naquele seu cuidador. A criança busca então um segundo adulto para relatar o maltrato acontecido, e é nessa hora que o trauma se concretiza, pois esse segundo adulto mesmo sabendo que a criança está dizendo a verdade, a confunde afirmando que não aconteceu nada, que ela entendeu mal. A criança fica então sem ter em quem confiar, nem nela mesma, pois sua percepção também foi atacada.
A criança necessita de alguém em quem possa contar a sua dor, ser ouvido e verdadeiramente compreendido.

Os pacientes de hoje apresentam-se bem mais desorganizados psiquicamente que os neuróticos de antigamente. Nossos pacientes são traumatizados pelas inúmeras e variadas formas de desamparo e abandono que a sociedade atual vem impondo.
A relação real com a pessoa do analista é que fornece um ambiente facilitador e acolhedor para que o frágil ego infantil dentro da pessoa do paciente possa florescer.
No restrito ambiente do setting, cabe ao analista adaptar-se ao paciente, levando em conta que tanto o ambiente como o setting psicanalítico pode ser facilitador da estruturação do psiquismo ou atuar como desorganizador da mesma.
Segundo Ferenczi:
Trauma: Fruto de conflitos reais com o mundo externo.
Trauma sexual: Protótipo da violência contra um ego imaturo.

Violência Moral: Rigor inadequado da educação como acionadores da "Confusão de línguas entre adultos e crianças".
A violência fica adscrita à pulsão, a violência é o exercício da força para subjugar a outro e, inclusive, matá-lo. As armas substituem a força muscular e a morte do inimigo satisfaz uma inclinação pulsional. A violência é quebrantada pela união sempre em termos pulsionais, e o direito é o poder de uma comunidade.
A violência de um indivíduo e a violência de uma comunidade, sendo que uma comunidade pode se proteger da violência estabelecendo laços especiais.