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terça-feira, 17 de agosto de 2010

As crianças "não" são o melhor do mundo

Uma postagem de Jotabê(Sul de Portugal) da qual achei muito interessante, principalmente para refletirmos das crianças na sociedade em que vivemos com uma cultura e economia hostil.
Tenho, ou melhor tinha, pois estou aqui a partilhar com vocês, um segredo de opinião que me vinha, tal qual todos os outros que ainda irão permanecer, a corroer.



Odeio a expressão, “As crianças são o melhor do mundo”.

E odeio tão-somente por estes dois motivos; primeiro por não concordar com ela, o que só por si é relevante, e segundo porque no meu íntimo, ao não concordar, achava que não devia partilhar esta opinião com mais ninguém, não fossem ficar a gostar menos de mim, (eu sempre tive um grande défice de afectos).



É uma expressão que sempre que a oiço, dá-me comichão, na garganta, (talvez por ter que calar o desacordo), na nuca, nas costas, e não são assim tão raras as vezes que me provoca oma tosse compulsiva, acabo sempre por disfarçar com um engasgue inventado.



Para não chatear com fastidiosas explicações, esta expressão, na minha opinião, é como um imaculado manifesto que nos remete a todos nós, os adultos, para a condição de maus seres. Pois bem, basta andar atento e olhar em redor para facilmente chegar à conclusão que, as crianças podem ser, ofensivas, desgradáveis e impossiveis de aturar, perversas, chantageadoras, podem até matar. As razões para tal não interessam, podem ser as mais variadas, o que interessa é que as crianças serão sempre reflexo do ambiente que as rodeia, e os pais terão quase sempre o papel decisivo nesse processo, sei também que para muitos isto é chinês. Na sua ausência, responsáveis, tutores, ou mesmo instituições, representarão esse papel, é este o resto do quase que atrás referi.



E tudo isto permanecia amordaçado cá dentro de mim.

Eis quando surge então uma opinião vinda de Eduardo Sá.



Quem é Eduardo Sá?

Eduardo Sá é psicólogo clínico, psicanalista e professor de psicologia clínica na Universidade de Coimbra e no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa. Tem uma longa experiência de acompanhamento de fetos e de bebés, de crianças, de adolescentes e das suas famílias. Director da Clínica Bebés & Crescidos.Tem colaborado regularmente na imprensa, nomeadamente nas revistas XIS, do jornal Público, Adolescentes, e actualmente na Notícias Magazine, do Diário de Notícias, publicou, Manual de Instruções para uma família feliz, Más maneiras de sermos bons pais, Psicologia dos pais e do brincar, A maternidade e o bebé, A vida não se aprende nos livros, Tudo o que o amor não é, Chega-te a mim e deixa-te estar, Crianças para sempre e, em co-autoria, O melhor do mundo.

(In Oficina do Livro)



E o que disse então Eduardo Sá?

Ora bem, o sr. doutor disse mais ou menos isto:

As crianças não são efectivamente o melhor do mundo. As crianças podem ser muito mazinhas, dependendo de quem e da forma como são educadas. E precisamente por serem pessoas influenciáveis e moldáveis, nunca poderiam ser esses seres melhores, os melhores. Considerar as crianças como seres melhores que qualquer outro, é pressupor que caminhamos ao longo da nossa vida para pessoas cada vez piores, o que na verdade não é bem assim. É importante enquadrá-las e harmonizá-las com a sociedade como seres de direito, respeitá-las, educá-las e amá-las. Na nossa vida tornamo-nos seres cada vez mais capazes, melhoramos profissionalmente e psicologicamente, cultivamo-nos e enriquecemos com a experiência de vida, não o contrário.



Ora aí está, agora com toda a autoridade, “As crianças não são o melhor do mundo”, e congratulo-me com o facto de ficar com menos um segredo cabeludo que me consumia.

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